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10/04/2017

Desde quando torturador e galhofeiro é referencia bibliográfica?

NOTA PÚBLICA EMITIDA POR DOCENTES DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Os docentes do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá - UEM (DHI-UEM) abaixo-assinados tornam público o seguinte posicionamento.

O DHI-UEM foi envolvido em algumas polêmicas recentemente, divulgadas amplamente pelos meios eletrônicos, relacionadas aos seguintes fatos:
a) dois docentes do DHI publicaram um livro justificador da ditadura civil-militar de 1964, utilizando como âncora, entre outras do mesmo gênero, a versão do Coronel Carlos Brilhante Ustra. No lançamento do livro, divulgaram, orgulhosos, imagens fotográficas ao lado do controvertido personagem conhecido como “Cabo Anselmo”;
b) alguns docentes do DHI, incluindo os dois autores, se tornaram divulgadores da obra do “pensador” conservador Olavo de Carvalho. Nos últimos dias, alguns alunos do campus de Ivaiporã, onde também funciona uma licenciatura ligada ao DHI-UEM, denunciaram a inclusão, na bibliografia da disciplina de História do Brasil III, de obras de Olavo de Carvalho, de Carlos Brilhante Ustra e de algumas nulidades intelectuais, como o autor dos guias politicamente incorretos da história.
Tudo isso é fator de embaraço e de constrangimento para os signatários da presente manifestação, que não têm essas identidades políticas e intelectuais. É justo apontar que o DHI colaborou, por intermédio de seus laboratórios de pesquisa, com a agenda da Comissão Nacional da Verdade. Da mesma maneira, alguns de seus docentes tiveram participação orgânica na Comissão da Verdade do Paraná. No Programa de Pós-Graduação, seja da lavra dos docentes, seja de autoria dos pós-graduandos, há representativa produção de pesquisas críticas à ditadura, algumas concluídas e outras em desenvolvimento.
Além disso, o DHI está na coordenação do Opening the Archives Project, um esforço conjunto da Brown University e da Universidade Estadual de Maringá para digitalizar e indexar 100.000 documentos do Departamento de Estado dos EUA sobre o Brasil, produzidos entre 1963 e 1973, e torná-los disponíveis para o público em um site de acesso livre. Desnecessário salientar o potencial dessa documentação aos estudos da ditadura.
Mais do que expor nosso constrangimento com os fatos citados acima, queremos dizer, em alto e bom som, que não nos representam. Não compactuamos. Esclarecemos que não somos, os signatários deste documento, um coletivo homogêneo em nossos referenciais intelectuais e políticos. Temos vocação pluralista e sabemos converter nossas diferenças em um ambiente fecundo para o crescimento de cada um e do conjunto, em benefício da instituição a que estamos ligados. O que nos une é o combate à degradação acadêmica, que prejudica, segundo nossos critérios de avaliação, a reputação do nosso departamento e a formação dos nossos alunos.
Como lidar com essa situação e confrontá-la academicamente é algo que precisamos fazer com método, perseverança, responsabilidade e respeito ao pluralismo e à legislação. O fato de demarcarmos nossa divergência com esses referenciais e com essas práticas não deve ser confundido com adesão ao controvertido “projeto escola sem partido”, cuja vocação autoritária não desconhecemos e também denunciamos. Nosso território é outro. Somos movidos pela convicção de que devemos garantir uma formação democrática, pluralista, ética e historiograficamente relevante aos nossos alunos.
SIGNATÁRIOS
(Esclarecemos que as adesões são de ordem pessoal e não institucional, mas indicamos, para orientação dos leitores, a responsabilidade institucional dos signatários.)
• Renata Lopes Biazotto, Chefe do Departamento de História e coordenadora do Grupo de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade – STUDIA.
• Isabel Rodrigues, Chefe Adjunta do DHI, coordenadora Laboratório de Ensino e Multimeios em História da UEM.
• Vanda Serafim, Coordenadora de curso de graduação em História do campus sede da UEM e do Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades.
• Lucio Tadeu Mota, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História e do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história – UEM.
• João Fabio Bertonha, Coordenador Adjunto do Programa de Pós-Graduação em História.
• Solange Ramos de Andrade, Coordenadora do mestrado profissional em História (ProfHistória) e do Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades.
• José Henrique Rollo Gonçalves, representante do DHI no Conselho Universitário da UEM, coordenador do Laboratório de Estudos Americanos, Africanos e Orientais.
• Reginaldo Benedito Dias, representante dos professores de pós-graduação da UEM no Conselho Universitário.
• Sidnei J. Munhoz, um dos coordenadores do Opening the Archives Project e do Laboratório do Tempo Presente da UEM.
• Christian Fausto, Coordenador do laboratório de História, Ciência e Ambiente.
• Luiz Felipe Viel Moreira, ex-Coordenador do Programa de Pós-graduação em História.
• Luiz Miguel do Nascimento, docente do DHI.
• Márcia Tetê Ramos, docente do DHI e do profhistória da UEM e do mestrado social da UEL.
• Natally Vieira Dias - Coordenadora Adjunta do Curso de História - EAD

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